Como saber que preciso de terapia?
Todo mundo passa por períodos de stress, tristeza, luto e conflito. Relacionamentos são um desafio à parte e estão em um ciclo grande de mudanças de paradigmas. A vida profissional ou a falta dela também.
Porém, existem alguns sintomas físicos ou comportamentais que surgem como pedido de socorro de nosso sistema (corpo, mente e “espírito”), indicando que precisamos parar e colocar algumas coisas no lugar. São coisas quase sempre passadas, não resolvidas batendo à nossa porta, como fiéis cobradores.
Temos uma falta de educação e saber, que associa o processo terapêutico a um preconceito de estar ficando louco ou, de que “é coisa maluco”. Não, não… Muito do contrário, a verdadeira terapia deveria constar nos direitos e deveres de um povo, pois é um dos mais potentes instrumentos de autoconhecimento e superação de nossas crenças limitantes. Sim – muitas vezes não sabemos que o “problema” que estamos passando agora poderia ser sanado ou resolvido muito mais rápido que o desenfreado consumo de medicamentos e de literaturas motivacionais. Vou listar então alguns sintomas de que devemos parar e pensar numa terapia, e ao final explico como funciona o processo:
1. Quando suas emoções estão muito à flor da pele (leia-se hipervigilância).
Todo mundo fica nervoso e triste, mas e a intensidade disso? E a frequência? Isso te atrapalha ou prejudica a sua vida? Seu sono? Às vezes talvez você se perceba com uma carga grande de intolerância e humor instável. E anda explodindo com frequência. E até tomando sustos à toa. Este é um sinal clássico de que seu corpo está com excesso de adrenalina represada – você está adrenérgico ou hipervigilante e seus cinco sentidos estão alterando sua percepção e si e do mundo. Esse tipo de ansiedade extrema, em que as preocupações são desproporcionais e os cenários pessimistas passam a se tornar cenários realistas, pode ser profundamente debilitante.
Pode ser paralisante, levar a ataques de pânico, introversão, violência, fuga e até mesmo a evitar as coisas normais de uma rotina.
2. Você passou por um trauma e não consegue parar de pensar no assunto.
A dor de uma morte na família, uma separação ou a perda do emprego podem ser suficientes para exigir algum tipo de ajuda. Estamos num mundo de crenças altamente egoístas e compulsivas. A tendência é achar que esse tipo de sensação vai embora sozinha. O luto da perda de um relacionamento, de alguém, de algo… Pode nos atrapalhar no dia a dia e nos afastar dos amigos e do foco da vida. Se você perceber que está se distanciando, ficando pessimista, com ideais que não tinha antes e isso consome sua energia, ou se seus amigos notarem o mesmo, talvez seja a hora de procurar alguém para tentar entender como o evento ainda está te afetando. Por outro lado, algumas pessoas reagem às perdas com uma reação mais maníaca — buscam os amigos incessantemente, ou criam novas amizades e despejam tudo nelas, ficam altamente verborreicos (falantes) e têm problemas para dormir e serenar. Estes também são sinais grandes de alerta.
3. Você tem dores de cabeça recorrentes e inexplicáveis, dores de estômago ou fica constantemente gripado – imunidade baixa.
Se estamos emocionalmente abalados, o corpo pode com certeza será afetado e você começará a somatizar isso em sintomas claros. Aquela queimação no estômago, enjoo persistente, dores de cabeça constantes, e quando parece que qualquer vento te deixa gripado. Manchas e alergias de pele também em recorrência… O estresse pode se manifestar de diversas formas, de problemas estomacais crônicos a dores de cabeças, resfriados e redução do apetite sexual. Seu corpo está dizendo: “Ei, me ajude!!!” – E provavelmente os remédios do médico vão apenas melhorar, mas a coisa vai voltar a se repetir e ninguém entende o porquê.
4. Você está usando alguma substância para aguentar o dia a dia
Se você percebe que está bebendo ou usando drogas em maiores quantidades ou com maior frequência — ou até mesmo pensando mais em bebidas ou estimulantes, pode ser um sinal de que você queira anestesiar algum tipo de sensação. Mas essa substância pode não ser o álcool ou droga: pode ser comida também. Ou até jogos de computador que entram noite adentro e “ressacam” seu corpo no dia seguinte. Voltando… Mudanças no apetite podem também ser um sinal de que nem tudo está bem. Comer demais, ou de menos, pode indicar estresse ou sinalizar que você não está querendo cuidar de si mesmo. Abuso de álcool, drogas, remédios para emagrecer, estimulante para poder levantar e tranquilizantes para dormir – você precisa de ajuda!
5. Você não está rendendo no trabalho
Mudanças na performance no trabalho são comuns entre aqueles que enfrentam questões emocionais ou psicológicas. Você pode se sentir desconectado do trabalho, meio “alien” – sensação de não pertencer, mesmo que antes gostasse do que faz. Além de afetar a concentração e a atenção, você pode começar a receber críticas dos seus chefes ou colegas. Adultos passam a maior parte do tempo no trabalho. Então as pessoas que reparam são aquelas que têm de compensar, como em uma família.
5. Você não está rendendo no trabalho
Mudanças na performance no trabalho são comuns entre aqueles que enfrentam questões emocionais ou psicológicas. Você pode se sentir desconectado do trabalho, meio “alien” – sensação de não pertencer, mesmo que antes gostasse do que faz. Além de afetar a concentração e a atenção, você pode começar a receber críticas dos seus chefes ou colegas. Adultos passam a maior parte do tempo no trabalho. Então as pessoas que reparam são aquelas que têm de compensar, como em uma família.
6. Você se sente desconectado daquilo que gostava de fazer
Se seus “clubes”, encontros de amigos e família estão perdendo a graça, pode ser um sintoma de que algo está errado. Se você está desiludido, achando que nada faz sentido, buscar terapia pode ajudar a clarear o ar ou procurar uma nova direção. Talvez você esteja passando pelo que eu chamo de “crise da solidão profunda”.
7. Seus relacionamentos estão desgastados
Você tem dificuldades para explicar como realmente está se sentindo – ou mesmo para identificar suas emoções? Se você se sente infeliz durante as interações com aqueles que ama pode ser um candidato para uma terapia de casal ou de família. Podemos ajudar as pessoas a escolher melhor as palavras – e ensinamos que não é só o que você está dizendo que importa, mas também sua linguagem corporal e sua atitude. Relacionamentos são um dos maiores motivos atuais de procura de terapia. Infidelidade, ciúmes graves, projeção, posse, controle, paranoias estéticas, violência e prisão emocional.
8. Seus amigos dizem que estão preocupados com você
Amigos podem perceber padrões que não conseguimos identificar nós mesmos, portanto é importante considerar a opinião daqueles que estão à sua volta. Se alguém que faz parte da sua vida diz algo como: ‘Você falou com alguém sobre isso?’ ou ‘Você está bem? Estou preocupado com você’ – é um sinal de que você provavelmente deveria ouvir o conselho – ou melhor – ter informações de ponta sobre si mesmo.
A primeira pergunta que faço para alguém quando vem procurar terapia é: “O que fez você buscar ajuda?” Às vezes a pessoa responde: “Não sei bem direito como funciona uma terapia, só sei que não consigo mais continuar enfrentando meus problemas sozinho”. Como profissional, percebo no primeiro momento o alívio da pessoa em poder compartilhar sua história de conquistas e de dor.
Olhar para si mesmo de forma contínua sob o olhar do terapeuta individual ou de grupo proporciona uma segurança natural de suas próprias capacidades. A autoestima decorrente da auto-aceitação de suas próprias fragilidades e vulnerabilidades permite uma nova forma de se relacionar consigo mesmo e com os outros. Talvez você precise ressignificar ou reprogramar um comportamento, sentimento ou pensamento que o impede de ter uma real sensação de vida que se expande e beneficia os outros. Não ache, porém que a terapia vai te ajudar a encontrar um culpado pelo seu mal-estar. Nem tampouco o terapeuta vai terceirizar a ele a real solução do problema. Não vamos apoiar que se façam investigações sobre si mesmo (no seu passado) e que você continue do mesmo jeito ou se torturando. Terapia é ação, é coragem é revolução. O terapeuta é só um facilitador do processo de autodescobrimento e não o responsável pela sua melhora – isso é com você, diante das novas informações que conseguir entender sobre si mesmo e seus processos íntimos.
Fazer cair a ficha e mostrar as ferramentas – este é o papel do terapeuta de verdade. Ainda que você ache que as pessoa à sua volta são problemáticas – você é o centro da sua vida que realimenta essa doença ou não. Se está com problemas é porque tem alimentado o problema e, portanto, você é parte dele. A terapia só acontece quando você entende que a mudança é a única solução e só pode ser feita por você. Por fim, terapeutas também são seres humanos – não espere uma resposta que esteja além do alcance humano. Humanos só podem levar as pessoas até onde humanos podem ir.
*Jordan van der Zeijden Campos é Psicoterapeuta e CEO do JC Núcleo de Terapia.